NUNCA MAIS TE VI
José Torres Gomes
Sempre gostou de ler, mas sobretudo de escrever, mas o facto de ser portador de deficiência visual não lhe permitia escrever pelo seu próprio punho. O contacto com a ACAPO, associação que apoia cegos e amblíopes trouxe novas esperanças na realização do seu sonho. Concretizou uma formação para a aprendizagem do software de leitura de textos digitais − o Jaws.A partir de então passou a escrever regularmente no computador.
Em 2010 editou o seu primeiro livro, “Os ossos também falam”.
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Nós, nobre povo Lusitano, gente empreendedora e aventureira, em pouquíssimas ocasiões tivemos a capacidade de manter sarado o estigma que tem sido a miséria a cujo o povo se tem sujeitado. Nos inícios do século XX, a miséria, que sempre incidiu com mais rigor nos meios rurais, reinava com toda a sua intransigência.
Na região entre Lima e Ave, vivia um casal com muitos filhos. A escassez de recursos obrigava a que alguns dos filhos fossem servir para casas abastadas. O drama de quem abandona os que mais ama, e o trato a que serão submetidos, estão em foco no desenrolar desta história.
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“A menina deu aos ombros e timidamente disse: — Estou, mas queria o meu pai! E a minha mãe também! Onde estão eles os dois? E o Martinho, e o Vicente, e o Fredo, e a Rosa, e a Amélia, e a… — Dorme minha filha, eles estão todos bem! Não te preocupes com eles, daqui a poucos dias vais vê-los! Sem maldade, assim a enganava Dona Maria, enquanto que o homem afagava os cabelos da menina e a beijava na testa. Os olhos da criança encheram-se de água, a dor dela era ainda, e nos próximos dias não o seria de outra maneira, muito dura. Olhava para os dois com um condoído olhar, eles ternamente para ela olhavam, e sentiam terem cometido um crime com aquela doce menina que precocemente fora para uma casa estranha a fim de servir, estava predestinada a ter uma vida boa naquela casa, todavia os acontecimentos por vezes são imprevisíveis e o futuro uma incógnita.“ _______________________________________________
AUTOR: José Torres Gomes
EDIÇÃO: Março 2011